Quando eu era menina e Maceió uma pequena, tranquila e quieta cidade, a praia da avenida da Paz se estendia em areia sem fim até o Pontal da Barra, ali onde a lagoa se confunde com o mar.
Dunas davam a região relevo de sonho, a praia do Sobral era para mim território distante.
Despertava minha imaginação o azul profundo do mar ao entardecer, o horizonte lá longe, me levavam a inventar histórias. Castelos de fadas eram as nuvens que se acumulavam na linha imaginária que divide o céu azul do mar.
Imaginava-me singrando aquelas águas, atravessando a linha, ingressando em um país muito diferente, fantástico, onde encontrava princesas, gnomos, árvores falantes e sereias de longas e verdes cabeleiras de algas entremeadas com corais e pequenos brilhantes peixinhos multicoloridos.
O rio Salgadinho ainda corria livre e piscoso, e se lançava no mar decidido a se integrar e assim fazer parte de algo muito maior.
Acreditem, não existiam garças na paisagem onírica, no máximo maçaricos, pequenos pássaros das praias e peixes, muitos, daqueles pequenos caranguejos anêmicos, patas amareladas e olhos pretos saltados, mas garças, jamais foram vistas por ali.
Garças viviam lá nos mangues e lagoas que eram repletas de peixe, sururus, camarões, ostras encrustada nos galhos e raízes dos manguezais, caranguejos azuis e peludos uçás.
As garças viviam em seus ninhais longe da praia da Avenida, como chamávamos à época.
Quantas vezes sob o olhar de adultos, descíamos, em bando para tomar banho salgado, e voltávamos alegres, o sal grudado no corpo, leves e felizes.
Em casa tínhamos de deixar o iodo penetrar nossa pele, assim diziam nossos pais, para depois tomar um bom banho de chuveiro e modorrar o resto do dia entre leituras, visitas e alegres conversas.
Mas, deixemos as memórias de um lado e voltemos as garças.
Elas sim, testemunho do crescimento, de uma cidade sem projeto de futuro.
Crescendo desordenada e ávida de enriquecimento. Provavelmente sem conhecimento sobre o impacto ao meio ambiente, menos ainda, de ecologia.
Achávamos que os recursos naturais eram inesgotáveis, sem entendermos que os mangues são um berçário natural da vida marinha e lagunar.
Assim, as garças em bando se aventuraram a vastidão litorânea de nossa cidade, compondo hoje a paisagem urbana.
Quem não viveu aqui antes, não tem noção que a presença delas, apesar de dar um toque de beleza selvagem é apenas testemunho da degradação do ambiente que viviam.
Já não sonho com castelos de fadas, vejo a presença das garças com um aperto no coração.
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Yaradir de Albuquerque Sarmento
É sócia efetiva da AAL, ocupa a cadeira 14 desde 2015 publicou o primeiro livro em 2013: versos sem reverso - editor Benedito Ramos Amorim, no ano seguinte publicou outro livro de poemas: Maquinações Poéticas com o mesmo editor e logo em seguida o romance: Sonho de Uma Noite na Índia lançado sob a edição de Benedito Ramos Amorim no ano 2016. O nascimento de vênus livro de poemas publicado em 2019 - editora CBA. em 2021 - editora Viva - Um Jeito Feminino de Ser Crônicas e Contas. 2021 - editora Viva - Camaleoa - Romance 2023- editora Viva - Poemas Esquecidos - aguardando lançado. Pintora autodidata fez duas exposições no MISA - 2014 e 2019. uma exposição coletiva no parque shopping. Sua pintura é espontânea, tem traços de impressionismo, no entanto as cores são sua paixão e desafio, flores e mulheres místicas são seu tema favorito. Quer através da pintura resgatar o divino no feminino, a deusa geratriz que impulsiona a humanidade para a procura do bem e o belo, tanto externamente na natureza que nos cerca quanto interna na força do espírito que constrói e eleva o homem aos paramos dos deuses.